Território e a atuação geopolítica do Estado

A atuação geopolítica de um Estado está intimamente relacionada à sua base territorial. Mesmo com a evolução tecnológica e os avanços dos meios informacionais as características geográficas de um Estado continuam a ser um fator relevevante (e por vezes determinante) das capacidades e dos interesses estratégicos de uma Nação e também do seu relacionamento com os demais países.

Ao se realizar a análise da atuação geopolítica de um Estado, algumas características de seu território devem ser observadas com maior grau de atenção, uma vez que podem nos trazer informações bastante relevantes sobre os movimentos dessa Nação no tabuleiro geopolítico global. Dentre essas características, três são fundamentais para serem analisadas : o tamanho, a forma e a localização geográfica da base territorial do Estado. Vamos conhecer como cada uma dessas características influi e impacta a geopolítica de um país ?

TAMANHO

Pode-se definir o território como sendo o espaço geográfico delimitado onde um Estado exerce sua soberania, ou seja, uma porção de espaço onde uma Nação aplica as suas leis e suas normas e exerce o seu poder. Intuitivamente, atribuimos a Estados com grande extensão territorial um grande potencial de Poder Nacional, em virtude desses Estados teoricamente possuirem uma vasta gama de recursos naturais, grande extensão de terras férteis, grande biodiversidade, possibilidade de autossuficiência energética e também possuirem profundidade estratégica, o que facilita sobremaneira a sua defesa.

Por outro lado, a grande extensão territorial também traz consigo dificuldades inerentes à administração de todo o espaço geográfico, o controle e proteção das fronteiras, necessidade de uma grande rede de infraestrutura logística e a adoção de políticas eficientes para a manutenção da integração nacional e coesão interna.

O nosso planeta possui um superfície terrestre de aproximadamente 150 milhões de quilômetros quadrados, divididos por 195 países, segundo a Organização das Nações Unidas. Caso todos os países do mundo tivessem a mesma extensão territorial, o tamanho de cada um dos países do mundo seria da ordem de 760 mil quilômetros quadrados. Entretanto, sabemos que na prática o tamanho dos países do mundo é bastante desigual, o que torna essa característica um grande diferencial em suas possibilidades geopolíticas.

Por um lado, existe um grupo de países que possuem mais de 2 milhões de quilômetros quadrados de extensão, como é o caso da Rússia, Canadá, Estados Unidos, China, Brasil, Austrália, Índia, Argentina, Cazaquistão, Argélia, República Democrática do Congo e Arábia Saudita. Contrastando com esses gigantes, temos Estados com extensão inferior a 2.000 quilômetros quadrados, como é o caso de Monaco, Tuvalu, San Marino, Liechtenstein, Malta, Andorra, Barbados e Singapura. A título de comparação, somente a cidade de São Paulo possui uma extensão de aproximadamente 1.500 quilômetros quadrados.

Como se pode notar, ainda que o tamanho do território não seja necessariamente um fator determinante na atuação geopolítica de um Estado, é bastante improvável que um país com pequena base territorial venha a ocupar uma posição de liderança no cenário global, ainda que possam existir países pequenos que exerçam relativa influência em seus cenários regionais e alguns que até influenciam o cenário global, como são os casos de Israel e da Suiça.

FORMA

A forma de um Estado pode ser entendida como sendo o “contorno” do Estado e a consequente distribuição de suas fronteiras em relação ao seu “centro político-econômico”. Apesar de cada um dos países do mundo apresentar uma configuração e uma forma diferente, podemos classificar essas formas em três tipos básicos : compacta, alongada, fragmentada. Quais são as características de cada uma delas ?

  • Compacta: um Estado possui a forma compacta quando as suas fronteiras encontram-se equidistantes do centro de seu território, como se observa, por exemplo, no Uruguai e na Polônia. Países com a forma compacta, em geral, apresentam distâncias relativamente curtas entre o centro e as extremidades, o que facilita a adminstração, as comunicações, a logística e também a defesa. No entanto, Estados compactos também possuem uma menor biodiversidade e diversidade climática, o que limita a sua produção agrícola. Além disso, seus recursos naturais e suas infraestruturas críticas tendem a ficar mais concentrados, o que pode ser prejudicial à sua defesa.
  • Alongada: um Estado alongado é aquele que apresenta um formato comprido em um direção e mais estreito em outra direção do seu território como se pode observar na Noruega, no Vietnã e no Chile, na Rússia e na Argentina. Países com a forma alongada, normalmente, apresentam grandes distâncias internas entre as regiões extremas, dificultando as comunicações, a infraestrutura, e a administração. Se o eixo mais comprido for no sentido norte-sul, o país pode apresentar uma série de zonas climáticas dintintas, com reflexos para a agricultura, as características urbanas e o modo de vida. Caso o maior eixo seja no sentido leste-oeste, o país pode ter diversos fusos horários, o que dificulta a centralização política e a administração do território.
  • Fragmentada: dizemos que um Estado possui a forma fragmentada quando seu território é dividido em duas ou mais partes separadas geograficamente, ou seja, quando não possuem continuidade territorial. Essa separação pode ser causada por aspectos naturais, como ocorre com a Indonésia e as Filipinas, cujo território é formado por um conjunto de ilhas, ou por aspectos políticos, como ocorre com os Estados Unidos em relação ao Alasca, com a Rússia em relação a Kalingrado ou a França em relação à Guiana Francesa. A forma fragmentada traz alguns aspectos negativos para o país, como dificuldades de integração, dificuldades logísticas e dificuldades de administração e defesa. No entanto, a forma fragmentada também pode proporcionar uma maior biodiversidade e reservas de recursos naturais distintos como também facilitar a projeção de poder em outras regiões do mundo, a exemplo da França com a sua possessão ultramarina na América do Sul, a Guiana Francesa.

É certo que essas três “formas básicas”, apesar de bastante abrangentes, são insuficientes para se classificar todos os Estados do mundo. Uma análise mais acurada irá apontar que existem países que não se enquadram totalmente em nenhuma dessas classificações, bem como a existência de Estados que se enquadram em mais de uma classificação. Trata-se de uma classificação sumária, com a finalidade de se iniciar a análise da atuação geopolítica de um país, não devendo ser tomada isoladamente para se tirar conclusões absolutas e definitivas.

LOCALIZAÇÃO

A localização relativa de um Estado e a sua proximidade em relação a oceanos, mares, centros político-econômicos de importância global e zonas de conflito real ou potencial também influencia de maneira decisiva a forma como esse país atua no cenário geopolítico regional e global. Países com uma localização mais centralizada, como a Alemanha, tendem a possuir uma maior facilidade de comércio e de articulação diplomática do que nações localizadas em áreas periféricas do mundo, como a Bolívia, na América do Sul e diversos países africanos, como o Níger e o Sudão do Sul.

A proximidade dos chamados “stroke points”, ou pontos de estrangulamento (estreitos, canais, regiões de passagem ou corredores marítimos) também conferem aos Estados que o controlam uma certa vantagem geopolítica, uma vez que esses países tendem a ter sua estatura diplomática ampliada nos fóruns intrernacionais, a exemplo do que acontece como o Egito (Canal de Suez), Panamá (Canal do Panamá) e o estreito de Málaca (Indonésia e Malásia). Por outro lado, essas regiões são constantemente focos de tensão geopolítica, o que pode levar os Estados que os controlam a envolvimentos em conflitos diplomáticos e mesmo a conflitos bélicos.

A proximidade a zonas de conflito também é um fator que influi na atuação geopolítica de um Estado. Países localizados em “áreas de fricção” históricas, como o Oriente Médio, ou em regiões onde ocorrem “encontro de civilizações”, como o sul da Ásia (Índia e Paquistão), a região do Sahel na África e mesmo o sudeste asiático, tendem a enfrentar sérios problemas religiosos,étnicos e culturais, que inicialmente não lhes diziam respeito, mas que , podem conduzir a crises que por vezes chegam ao conflito armado.

E você ? Qual é o seu pensamento sobre o tema ? Deixe sua opinião nos comentários ! Que conclusões podemos tirar sobre o Brasil ao analisarmos as características do seu território ? Como as duas maiores potências da atualidade ( Estados Unidos e China) utilizam a sua base territorial para se projetar mundialmente ? Aguardamos as suas ideias e conclusões !

Até breve !

2 comentários em “Território e a atuação geopolítica do Estado”

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