Choke Points: os pontos de estrangulamento globais

Os Choke Ponts (ou Pontos de Estrangulamento) podem ser definidos como aquelas áreas geográficas ou passagens marítimos onde o tráfego dos meios de transporte, pessoas, mercadorias e recursos naturais é naturalmente obrigado a passar por um espaço relativamente reduzido. Ou seja, nesses pontos de estrangulamento ocorre uma convergência para um espaço limitado, causando restrições ao movimento.

Choke Points

Essa concentração gerada pelos Choke Points torna essas regiões em locais de elevado potencial estratégico e potencialmente vulneráveis, uma vez que bloqueios ou interrupação em seus fluxos de movimento podem trazer sérias consequências políticas, econômicas e mesmo militares em âmbito global.

Ao longo da História, os Choke Points desempenharam papel fundamental no controle das rotas marítimas e rotas comerciais e militares das civilizações, a exemplo dos estreitos Bósforo e de Dardanelos (Helesponto) no Mar Negro, considerado estratégico para gregos, persas e romanos e também dos Passos Alpinos, locais de passagem cruciais entre a Itália e a Europa Central.

Em virtude de se constituirem em gargalos naturais que limitam e restringem o movimento, os Choke Points conferem a quem os dominam uma situação de relevante superioridade estratégica uma vez que :

  • Possibilitam o controle dos fluxos comerciais: o bloqueio, fechamento ou mesmo a simples restrição de tráfego pode gerar desequilíbrios na balança da demanda e oferta, afetando a disponibilidade e o preço de commodities estratégicas (como por exemplo petróleo e gás) e de alimentos.
  • Favorecem a projeção da expressão militar do Poder Nacional: uma vez que bases militares pré posicionadas nas proximidades desses Pontos de Estrangulamento podem ameaçar, restringir ou mesmo impedir o trânsito de embarcações e comboios de evantuais adversários ou proporcionar a segurança necessária para o trânsito de seus aliados.

Apesar de poderem ser tanto marítimos quanto terrestres, os Choke Points marítimos são mais emblemáticos, por normalmente representarem uma maior importância geoestratégica. Os Choke Points terrestres em geral apresentam importância em âmbito regional. Entre os principais Choke Points marítímos da atualidade podemos destacar:

ESTREITO DE ORMUZ

O Estreito de Ormuz constitui-se em um dos mais importantes Choke Points da atualidade. Localizado entre o Irã e Omã é a a porta de entrada entre o Oceano Índico e o Golfo Pérsico. Em sua área mais estreita possui a extensão de apenas 39 quilômetros. Na região, transita aproxidamente um quinto de todo o petróleo consumido no mundo, além de grande quantidade de gás natural, o que torna o Estreito de Ormuz vital para a segurança energética global.

Nesse espaço geográfico, ocorre uma intensa disputa geopolíca regional envolvendo o Irã e a Arábia Saudita e também uma disputa geopolítica de âmbito global, envolvendo os Estados Unidos e o Irã. Um eventual recrudescimento das tensões na região ou mesmo a ocorrência de um conflito armado envolvendo os países da região pode impactar profundamente o cenário mundial, com sérias consequências políticas, militares e econômicas.

ESTREITO DE MALACA

O Estreito de Malaca localiza-se entre a Malásia e a Indonésia e constitui-se na ligação entre o Oceano Índico e o Mar do Sul da China. Seu comprimento é da ordem de 800 quilômetros, possuindo uma largura de apenas três quilômetros em alguns de seus trechos mais estreitos.

Estima-se que atualmente 40% do comércio global transite por esse estreito, o que o torna fundamental para a sustentação da economia mundial. Trata-se da rota marítima mais utilizada para o escoamento da produção e para as gigantescas importações realizadas pela China. Dessa forma, o Estreito de Malaca é uma região de interesse acompanhada muito de perto pela própria China e também pelos seus principais adversários geopolíticos regionais e globais, como os Estados Unidos, o Japão e a Índia.

ESTREITO DE GIBRALTAR

O Estreito de Gilbraltar localiza-se entre o Marrocos e Gilbratar (possessão ultramarina da Inglaterra) e separa o continente europeu do continente africano. Possuindo uma largura de aproximadamente 14 quilômetros constitui-se em uma região vital para o comércio internacional, permitindo a passagem de navios entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, possibilitando as trocas comerciais entre a Europa, Oriente Médio, Ásia, África e as Américas. Atualmente, a região encontra-se no foco de questões migratórias, uma vez que é utilizada como rota para refugiados africanos em busca de melhores condições de vida no continente europeu.

CANAL DE SUEZ

O Canal de Suez localiza-se no Egito e possui uma extensão de cerca de 200 quilômetros. Foi inaugurado em 1869, com a finalidade de se constituir em uma região de passagem entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, criando uma rota marítima entre a Europa e a Ásia sem a necessidade de se contornar o continente africano, reduzindo custos de transporte e diminuindo sensivelmente a duração das viagens. Atualmente, circula pelo Canal de Suez aproximadamente 12% do comércio global, principalmente petróleo, gás natural e produtos manunfaturados.

Apesar das tensões geopolíticas sobre a região estarem atualmente arrefecidas, uma eventual interrupção do Canal pode trazer sérios prejuízos à ordem econômica global. A título de exemplo, o encalhamento por sete dias de um porta-conteiners da empresa Ever Green em março de 2012, devido aos fortes ventos que assolaram a região, causou o congestionamento de mais 400 navios e um prejuízo diário estimado em mais de US$ 9,5 bilhões.

CANAL DO PANAMÁ

O Canal do Panamá localiza-se na América Central (Panamá) e possui uma extensão de 82 quilômetros, ligando o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. O Canal foi inaugurado em 1914 e recentemente modernizado com a construção de um novo conjunto de eclusas, o que ampliou consideralvelemnte sua capacidade de tráfego.

A construção do Canal do Panamá reduziu significativamente os custos do transporte e o tempo de duração das viagens para o comércio realizado entre os Estados Unidos, a Ásia e e Europa. Estima-se que 6% do comércio global circule pelo Canal, com cerca de 13.000 navios atravessando anualmente o Canal, transportando petróleo, grãos, automóveis e diversos outros produtos manunfaturados. Qualquer instabilidade ou interrupção das atividades do Canal tem o potencial de trazer graves consequencias às cadeias produtivas globais e aos custos do frete marítimo.

Recentemente, o Canal do Panamá voltou a ser foco de tensão geopolítica com a posse do Presidente Donald Trump, que ameaçou retomar o controle do Canal, restituido ao Panamá em 1999, alegando aumento da interferência da China na região e questionando a gestão do governo panamenho.

ESTREITO DE BAB AL MANDEB

O Estreito de Bab Al Mandeb ou “Portão das Lágrimas” no idioma árabe encontra-se localizado entre o Djibuti, a Eritréia e o Iêmen, ligando o Mar Vermelho ao Golfo de Aden e ao Oceano Índico. Atualmente estima-se que 10% do transporte mundial de petróleo passa por Bab Al Mandeb tornando-o um Choke Point vital para a segurança energética global.

Atualmente o Estreito de Bab Al Mandeb é foco de várias tensões geopolíticas envolvendo a instabilidade política gerada pela Guerra Civil no Iêmen e os recorrentes ataques a navios mercantes realizados por piratas somalis. Além disso, no Djibuti existem bases militares dos Estados Unidos (Camp Lemmonier), da França (Base Aérienne 188), e também a única base ultramarina da China, que também contribuem para que a temperatura geopolítica da região permaneça em níveis elevados.

E você ? Qual é a sua análise sobre o tema ? Na sua opinião existem outros Choke Points marítimos que deveríamos ter incluído no artigo ? Quais ? Por que razão você os considera importantes ? Deixe suas opiniões nos comentários ou entre em contato com a Equipe do Geopoliticando : https://www.geopoliticando.com.br/contato/

Até breve !

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Se você quiser se aprofundar mais sobre o tema dos Choke Points : https://www.ium.pt/files/publicacoes/Cadernos/45/Cadernos_IUM_45_Geopolitica_Chokepoints_Shatterbelts_Vol1.pdf

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